quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Infância

    A infância é um perfume doce com muito éter - o aroma é gostoso e, assim, você desmaia. Dependendo do perfume, ele pode acabar mais rápido, ou você pode ficar desmaiado por muito tempo.
   Em virtude da data de ontem, fiquei refletindo sobre a questão da criança. Mais ainda, me peguei refletindo sobre a Infância, e isso vai mais além, é mais profundo, pois condiz com questões filosóficas e muita gente não sabe, mas a infância foi, ao longo de um processo histórico, construída...(quem não acredita é só ler o William Blake, pois, durante a Revolução Industrial ele aponta o tratamento que as mesmas tinham) e com a internacionalização do capitalismo, a mesma  infância passou a ser um alvo do consumo.
   Desta maneira, a minha reflexão sobre essas datas comemorativas, tais como a de ontem, sempre desembocam no consumo. Não sou contra as datas em si, mas o que elas significam e o sentimento que elas despertam, esses sim não me trazem coisas boas.
   Aos quatro, quase cinco anos de idade, minha mãe estava grávida do meu irmão mais novo, e, o meu pai, estava desempregado na época. Lembro-me que eu insistia na idéia da aquisição da casa da Barbie, o fenômeno de vendas na época. Uma noite, eu pedi novamente para o meu pai. Na época a moeda era outra (tô velha) e lembro que ele falou algo do tipo: "Andressa, eu tenho vinte mil cruzados no banco, e a fralda do seu irmão custa dois mil. O que é mais importante: O brinquedo ou a fralda?" Maneira meio forte de dizer, filha, não tenho grana pois estou desempregado, mas foi eficiente. Me calei na hora, e, nunca mais eu pedi a tal da casa. Quando fui dormir, o meu irmão mais velho tinha devaneios com um autorama, e eu explicava pra ele que a fralda do Tuquinha era mais importante.
   Aos cinco anos, logo com o nascimento do Tuca meus pais não estavam numa boa fase. e, mais uma vez meus pais apelaram à minha compreensão, nesse caso, minha mãe. Ela abriu uma bomboniere, e me convocou a cuidar do lugar com ela...e, não tive escolha.

   Escrevo todas essas coisas não reclamando, embora tenha uma crítica muito severa acerca dos meus pais e o modo como queriam que eu compreendesse e lidasse com aquela gama de responsabilidades. De alguma maneira, por um longo tempo, eu achava aquilo maravilhoso, me sentia no mundo dos adultos, mas isso não é algo positivo. Fui uma criança que brincava, que se divertia...mas que estava inserida no mundo dos adultos, que entendia que se não trabalhasse logo a comida poderia faltar, e que, teria de juntar uma grana para ir morar só.
  Esse mundo apareceu aos meus olhos, e, não foi possível, grande parte das vezes hesitar, estava imbuída nas situações, e quando vejo muitas crianças por aí, a começar pelos meus alunos, tendo seus talentos desperdiçados, seus sonhos despedaçados me vejo triste.
   Só resta esperar que as crianças sejam crianças, o que posso fazer ou pensar não chega nem perto das realidades vividas por cada um. É isso, me vejo triste.

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